Como é a interconexão entre as operadoras locais em modelos de cooperação através do IXP?

09/03/2022

Como é a interconexão entre as operadoras locais em modelos de cooperação através do IXP?

Por Augusto Mathurin

Quando falamos da qualidade na conectividade dos usuários de Internet, é provável que a maioria das pessoas pensem na última milha, ou como os usuários se conectam a seus provedores de Internet (ISP). Certamente todo o mundo esteja a par dos novos desenvolvimentos nesta matéria, por exemplo, a implementação de 5G. Mas sabemos o que acontece quando os nossos bytes atingem o ISP? Ainda falta muito caminho a ser percorrido para chegar ao destino; a interconexão, então, é tão importante na qualidade da conectividade dos usuários quanto a conexão com seus provedores, e, portanto, precisamos também conhecer e trabalhar para obter uma conectividade entre as operadoras a nível local e entre os países.

Em 2020 começamos a analisar, junto com o LACNIC, a interconexão na região da América Latina e Caribe, mediante o processamento de tabelas de roteamento BGP globais fornecidas pelos coletores de RIPE NCC. Neste relatório conseguimos comprovar que ainda há casos nos quais o tráfego entre países próximos é enviado a pontos de troca longínquos, localizados nos Estados Unidos ou na Europa. Esta informação pode gerar oportunidades de melhoras e novas conexões entre os pares e os pontos de troca, mas ainda falta pesquisar outro aspecto fundamental para conhecer a qualidade da interconexão nos países da nossa região, como por exemplo: saber como é a conexão entre as operadoras de rede que pertencem a um mesmo país. É por esta razão que começamos a analisar também as tabelas de roteamento BGP dos IXP locais, e isso nos permite aprofundar na informação que possuímos sobre as conexões a nível regional, assim como conhecer melhor a interconexão entre as operadoras locais em modelos de cooperação através dos pontos de troca.

Diferente da análise de tabelas BGP mediante coletores globais, a análise mediante consultas às tabelas dos IXP propõe um desafio adicional: fazer com que estes publiquem ditas tabelas. Alguns pontos da região já estão colaborando com PCH, que opera com coletores de rotas em mais de cem IXP ao redor do mundo. Os dados obtidos são publicados com o intuito de contribuir com a comunidade de pesquisadores e operadoras de rede. Mesmo assim, a quantidade de IXP participantes não é representativa para a região. Em resposta a isso, o LACNIC começou também a incentivar a instalação de coletores no âmbito do acordo com as organizações LAC-IX e Internet Society, que dão apoio aos IXP da região, fortalecendo sua infraestrutura. Desta forma conseguimos contar com dados para 7 países: Argentina, Chile, Costa Rica, Equador, Guatemala, México e Paraguai. Se bem, ainda não possuímos uma plena representação de toda a região, este primeiro estudo, entretanto, forneceu dados muito interessantes: observando a área de influência dos IXP, comprovou-se que existe certa interconexão regional, embora ainda possa melhorar.  Mesmo sem contar com os dados das tabelas do Brasil, é possível visualizar como é um dos países mais interconectados, uma vez que todos os IXP relevados, com exceção dos menores, atingem suas operadoras.

Países que fazem parte deste estudo em base à quantidade de IXP, segundo informação obtida.

Percebemos também que os IXP mais consolidados possuem uma boa cobertura (em torno de 70%), em comparação com tabelas de coletores globais. Isto significa que estes pontos de troca conseguem se conectar à grande maioria dos sistemas autônomos registrados em um país, e que aparecem ativos na Internet a nível global. Porém estes dados já não são tão alentadores se considerarmos apenas o protocolo IPv6, mais um motivo para reforçar o compromisso da implementação deste protocolo.

Todos os dados e conclusões detalhados podem ser baixados do relatório publicado, e, à medida que contarmos com mais coletores nos IXP, será possível fazer mais comparações e obter dados estratégicos para conhecer novas oportunidades de interconexão. É por esta razão que incentivamos os pontos de troca da região a instalarem um coletor BGP e publicar seus dados.

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